Adeus ano velho, feliz ano velho

Enquanto caminho minha mente divagava para fugir do calor.  Está acabado. Toda a pungência louca de dezembro culminando em um grande  show  pirotécnico,  beijos e abraços na praia. Mas não estou na praia.

 

Estou caminhando de volta para casa. Os relógios da Rua Dias da Cruz apontam que 2015 começara já faz uma hora. A hora deve estar certa, mas duvido dos 32 graus que mostra o termômetro. Com o suor grudando minhas roupas no corpo, sinto-me mais em Arrakis que no subúrbio do Rio de Janeiro. Famílias passam por mim com suas expressões de fim de festa,  regressando para seus respectivos lares. Vez ou outra algum fogos de artifício atrasado ainda se faz ouvir, quebrando o silêncio da noite. Sempre odiei fogos de artifício. Barulho e fumaça nunca foram meu ideal de comemoração.

 

E eles estavam ali... Na calçada,  sob uma marquise. Um casal dormindo entre um amontoado de pertences. Não. Não apenas um casal. Havia também uma terceira criatura. Uma criança que a primeira vista tomei por um trapo. Mesmo com todo o calor que fazia os três estavam tão juntos quanto se estivesse protegendo-se de um rigoroso inverno. Aquilo me deu uma sensação de sufocamento. Depois pensei que eles realmente precisavam de calor.

 

Calor humano. A indiferença é fria. Para aqueles três era só mais um dia,  só mais uma noite. Não trocaram beijos e abraços a meia-noite. Não havia ano novo.  Há muito tempo que não havia nada de novo em suas vidas. Em 2015 não descumpririam promessas – há anos não faziam nenhuma.

 

Só mais uma noite. Uma noite barulhenta. Não haveria nada de novo amanhã. Porque o calendário perde o sentido quando você é ninguém. Ninguém não conta os dias. Os dias são iguais para ninguém.

Réveillon

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