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Mostrando postagens de maio, 2012

Feroz

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Lembro que todas as cinzas manhãs fazia aquele caminho. Era uma casa construída sobre rocha, de modo que para chegar até ela, subia-se dois longos lances de escadas rentes ao paredão de pedra crua. Em cima havia um pequeno portão e uma amurada que separava o quintal de uns bons dez metros de queda. O parapeito era sustentado por uma sequência de pequenos pilares brancos, jônicos, que davam ar senhorial a fachada.   Foi lá que eu o vi.   Da primeira vez, achei que fosse saltar pelo vão da amurada tão disposto para fora estava, desafiando a altura. Não. Ficava ali, parado, olhando o movimento. Como um gárgula no topo de uma torre. Silencioso. Era completamente branco. Olhava tão fixamente para frente que poderia mesmo ser confundido com uma estátua se não estivesse em uma posição tão inusitada. Na manhã seguinte voltei a olhar e lá está ele. Na mesma posição. Parecia nunca ter saído dali. Passei a esperar por aquele trecho da viagem todas as manhãs, só para observar aquele quadro

na Rua da Praia

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Já estava tarde, tinha decido do ônibus e caminhava pela Rua da Praia há algumas quadras quando me deparei com aquela senhora. Antes, o que me chamou atenção foi a lona azul, estendida sobre a calçada de pedras portuguesas, coberta de livros. O hábito me fez diminuir a velocidade das passadas: não resisto facilmente a livros, mas dessa vez, não achei que fosse interromper minha caminhada. Esperava livros espíritas, autoajuda, coisas que normalmente não chamam minha atenção. Mas Ulysses me fez parar. Joyce, em uma bela edição de capa dura vermelha, saltava aos olhos. E não estava só. Proust, Sartre, Barthes... volumes e mais volumes. Abaixei-me, esquadrinhei as edições tentado o máximo possível não bagunçar a ordem criteriosa na qual estavam dispostas. Quando finalmente encontrei algo de meu interesse levantei com a obra em mãos, a procura do responsável pelos exemplares. Então a vi. Sentada no degrau de uma loja já fechada, lançando-me um olhar atento, cheio de interesse. Não sou capaz