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O Peixe

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Tinha um peixe na prateleira ao lado da fila do caixa. Estava dentro de um saco, mas ainda era um peixe. E me olhava. Havia sido pescado e abandonado ali. Não pela mesma pessoa, obviamente. Mesmo assim me lançava aquele olhar esbugalhado como se eu tivesse culpa do seu destino de peixe pescado. Fiquei indignado. E enjoado também. Se não o tirassem dali, daqui a pouco começaria a feder. Uma fila lenta já era desgraça suficiente sem um peixe lamuriento se decompondo ao lado.   Passei pelo caixa, deixei um quinhão do meu esforço pelas minhas compras e sai, rápido, fugido. Mas não me adiantou. O peixe acusador não me largou. Sentia seu cheiro de cais do porto. Seus olhos, seus malditos olhos que nem na morte se fechavam, seguiam-me. Era um maldito, um maldito que não se colocava em seu lugar, lugar de peixe morto.   Cruzei com uma velha conhecida na rua. Olhei para ela pensando em cumprimentá-la e apavorei-me. Vi o peixe em seus olhos. Não a cumprimentei. Não tinha palavras naquele