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Mostrando postagens de maio, 2013

Sinal vermelho

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Na chuva havia aquele homem, um senhor escrevendo num caderno molhado. As páginas já estavam manchadas pela tinta de caneta que se soltava. Para cada palavra que o velho escrevia, a água levava outras dez. Escorriam azuis, misturavam-se com as poças da calçada.   Em pouco tempo a calçada estaria cheia de palavras. Substantivos e adjetivos. Verbos e ideias que inexoravelmente escorreriam para o ralo. Virariam esgoto. E então o texto estaria completo. Lavado pela chuva. E nunca teria existido.   Todavia o molhado escritor parecia decido. Com uma angústia no rosto, palavra por palavra, não se dava por vencido.   Tive dó.   Mas quando o ônibus saiu e perdi a vista da janela, percebi que as palavras daquele homem, sejam lá quais fossem, eram mais verdadeiras que todas as que jamais escrevi.

Coisa de mãe

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Era Maricá, praia braba, oceânica. Naqueles dias a areia ainda era grande e branca. O mar um azul turquesa que só existe no verão.   A mãe estava pegando sol ao lado da barraca, acompanhada de outra mãe, amiga descartável da praia. Conversava com olhos atentos: o seu estava logo abaixo, brincando com as outras crianças na areia molhada, indo e fugindo das ondas.   “Não fica de costas para a onda!” gritava em alerta. “Não fico!”, respondia o filho quase sem pensar. Estava completamente imerso em suas importantes ocupações de engenheiros de castelos temporários, caçador de tatuís e colecionador de conchas. Havia um casal de irmãos da mesma idade e como criança solta logo se entende, antes de saberem os nomes uns dos outros os três já brincavam juntos.   “A onda, olha a onda! Presta atenção!”   “Tá bom!”, respondia envergonhado.   Então uma das crianças gritou “Que é aquilo lá?” e apontou para umas coisas pretas que entravam e saiam da água mais para dentro do mar.