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Mostrando postagens de maio, 2011

Matinal I

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Por Vitor Bornéo Todo dia de manhã transporto uma legião de mudos. Uma legião que parece enfurecida com suas carrancas e expressões de desgosto. Encolho-me no meu assento e toco o carro adiante, esperando um bom dia que nunca vem. Olho o trânsito matinal, o fluxo constante e ininterrupto pelas vias abarrotadas até quase o limite e penso em mim como uma espécie de hemoglobina que faz esta cidade funcionar. Fluir. Rio. Rio em seguida porque percebo que nunca penso em meu próprio sangue a não ser quando ele se esvai ou me falta. Acho que isso é normal. Dou um riso que muitos dos meus compartilham, mas que na maioria fica amargo com o tempo – como aquela piada melancólica de humor negro que já perdeu a graça e constrange ao invés de fazer rir. Amarga até nos fecharmos em nossas próprias carrancas e deixarmos de esperar... Ainda sim, sinto orgulho de mim mesmo. Eu guio a todos como iguais e igualdade é ou não é uma coisa importante? Homens fortes e fracos dos subúrbios. Mulheres direitas da

O começo

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Por Vitor Bornéo Começar é uma arte delicada. Sempre achei o começo muito mais complicado que o fim. Sair do zero absoluto para uma coisa, qualquer coisa é um fenômeno que me intriga. Se o estado natural de tudo é o nada, o ser é exceção. Isso torna o início uma coisa incrível. De repente, o vazio se solidifica em algo tangível. Uma vida, uma idéia, um amor. Um big bang de possibilidades. Alias, falando em vida, ela mesmo para mim é muito mais chocante quando começa do que quando termina. O fim é o fim. Todo mundo espera o fim. Mas e o começo, o princípio? Sair do doce conforto da inexistência para um existir frio e hostil. Assustador. Pensando bem... Talvez essa conversa seja toda bobagem. Talvez o começo já tenha tido um começo. E o próprio vazio seja alguma coisa. E então, tudo já começou em algum momento, alguma outra vez. E então, em outro instante, infinitos começos atrás, alguém viveu assim. Que nem eu, que nem você. E tudo vira parte do todo. Do passado infinito. Do eterno f