Memorabilia

 

"Que maravilha", ela disse. Eu concordei com um sorriso silencioso. Era mesmo uma maravilha, uma coisa sublime. Imagens de dois projetores se cruzavam para formar uma terceira na parede da sala escura.

 

Mas era outra a forma que eu contemplava.

 

No escuro, era apenas contorno e perfume. Não aqueles que se compra em loja. Não. Era um daqueles odores impossíveis de serem engarrafados, tão perfeitos que só existem na natureza, em estado bruto: o cheiro de terra molhada em uma tarde cinza, das ondas se quebrando na praia de Maricá, ou dos bolinhos de chuva com café de minha avó – um perfume que sozinho é capaz de parar o tempo ou invocar todo um sentimento.

 

Entorpecido, fiquei ali, parado... Com algum cuidado, conseguia ouvir sua respiração em meio ao silêncio. Ou talvez fosse a minha que escutasse.

 

"Queria um desses para mim."

 

Sim, sem dúvida. Eu queria.

 

Percebi que ali no escuro, naquela sala de memórias, quando toda sua beleza estava oculta pelas trevas, ela era mais ela do que nunca.

 

Ali, no escuro, na sala escura, tive certeza que era ela, que não existia alguém como ela.

perfil feminino com os cabelos ao vento

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