Meia Noite em Paris - crítica

Por Vitor Bornéo

1306967777_meia_noite_em_parisWoody Allen é um daqueles diretores aos quais é impossível ser indiferente. Ou você o ama, ou o odeia. Confesso fazer parte do primeiro grupo, mas reconheço que assim como seu público, sua direção é bipolar: minha teoria é que Allen é completamente incapaz de produzir um filme mediano. Quando erra na mão, dá vontade de dormir. Mas quando acerta... quando acerta é sempre em cheio.

Esse é o caso de Meia Noite em Paris (Midnight in Paris): Woody Allen em sua melhor forma. Aliás, desde Melinda e Melinda (Melinda and Melinda, 2005), o diretor vem nos brindando com uma ótima produção atrás da outra – com exceção talvez do fraquinho Scoop: O Grande Furo (Scoop, 2005). Depois da primeira metade da década de 2000 produzindo filmes que, apesar de bons, estavam bem abaixo do conjunto da sua obra, Allen parece ter entrado em uma fase mais madura – talvez um reflexo do seu “encontro”, por assim dizer, com a Europa –, que eu espero que dure bastante! Que o digam o denso e comportamental Ponto Final - Match Point (Match Point, 2005) e o adorável Vicky Cristina Barcelona (Vicky Cristina Barcelona, 2008), até então, as “cerejas do bolo” dessa sua fase europeia.

Digo “até então”, porque depois de Londres e Barcelona, agora é a vez de Meia Noite em Paris. E bem, Paris é Paris! Um filme de Woody Allen que tem Paris no título tem a obrigação de ser nada menos que perfeito. E foi essa a impressão que tive ao sair da sala de cinema.

1300751939_midnightinpariscartazeuaMeia Noite em Pais, conta a história de Gil (Owen Wilson, em mais uma ótima atuação), um bem sucedido roteirista de Hollywood que vai à Paris com a noiva, Inez (Rachel McAdams), acompanhando os futuros sogros em uma viagem de negócios. Gil sempre foi apaixonado pelos grandes escritores do período entre guerras e, frustrado com o rumo que sua vida tomou, sonha em escrever seu próprio livro. Paris irá aflorar esse velho desejo e fazê-lo repensar profundamente toda sua vida.

É difícil falar mais que isso sem estragar algumas das melhores surpresas do filme. Portanto, se você ainda não leu nenhuma outra sinopse, continue assim! Esta é a melhor forma de ir assistir Meia Noite em Paris: no escuro.

Minha impressão pessoal é que Meia noite em Paris invoca a eterna insatisfação do ser humano com o momento presente. Desde os gregos – e talvez até antes deles –, fala-se da uma Era de Ouro onde tudo era mais perfeito, mais belo. A Era de Ouro de Gil é a década de 30, onde residiam seus grandes ídolos, mas que por sua vez também tinham sua própria Era de Ouro. Às vezes o presente é tão banal e o futuro tão trabalhoso que é fácil se encantar com um passado utópico, embelezado pelos efeitos do verniz do tempo.

A forma como Woody Allen mostra isso, tão despreocupada, tão despretensiosa, é um enorme elogio a verdadeira arte, aquela que nos toca, que consumimos e que nos consome, e não a que está isolada em um pedestal, congelada na glória do passado. Gil é o perfeito alter ego de Allen – parece que Owen Wilson sempre gaguejou e passou a vida toda gesticulando ao falar –, o gênio americano que vai para ostracismo europeu.

1309201375_meianoiteemparis7O elenco também não poderia ter sido mais bem selecionado. Além dos já citados Rachel McAdams e Owen Wilson, Marion Cotillard (Inception), Adrien Brody (O Pianista) estão em ótimas interpretações. Divina, como sempre, Cotillard é a expressão perfeita de Paris – não consigo imaginar nenhuma outra atriz que poderia fazer melhor o papel dela (quem for ver o filme vai entender o que eu quero dizer, pode ter certeza). Já Adrien Brody só reforçou sua versatilidade e talento mostrando que também tem uma veia cômica. Até Carla Bruni (a primeira dama mais gata do mundo), que está no filme encarnando uma guia de museu, cumpre seu papel bem “direitinho”.

Para quem ainda não viu, é bom correr porque por algum motivo místico os filmes do Woody Allen costumam a ficar muito pouco tempo em cartaz aqui no Brasil. Seja você fã ou não, Meia Noite em Paris vale o ingresso. Você vai amar. Ou odiar. Impossível é ficar indiferente.

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