Natal


É véspera de Natal e faz um calor infernal. Estou em casa, ouvindo os barulhos da ceia ficando pronta na cozinha. Já que o ar-condicionado está proibido pela conta de luz, tento aliviar meu calor embaixo do ventilador.

Esta manhã li sobre um rapaz que vive há 15 anos no aeroporto internacional de Guarulhos.  Denis. Acho que era esse o nome dele.  Quinze anos vivendo de caridade,  num mundo onde o tempo é marcado por pousos e decolagens. A história de Denis foi uma maneira indigesta de começar o dia. Eles têm ar-condicionado nos aeroportos?

Aqui em casa somos poucos. Cristãos, menos ainda. Mas mesmo assim é Natal e a mesa vai ficando cada vez mais cheia até meia-noite. Enquanto isso fico variando de sofá e de ventilador. Sinto um frio da barriga,  uma coisa inexplicável que sinto todo Natal; talvez uma forma de compensar calor infernal que sempre faz. Ou uma lembrança,  uma lembrança de quando eu era moleque e todas as expectativas de dezembro giravam em torno de um embrulho e a tragédia máxima que poderia acontecer era Papai Noel esquecer de mim ou errar o presente. Nunca aconteceu. Nunca esqueceu. Nunca errou. E rasgar as embalagens meia-noite era realmente fantástico.


Agora cresci e meia-noite vou pensar no Denis. Na matéria também dizia que todo Natal um comandante pagava um quarto de hotel para ele dormir numa cama  de verdade e tomar um banho. Chorei quando li isso. Estou chorando agora,  enquanto escrevo. Mas meia-noite estarei sorrindo. Não importa meus problemas: pensarei no Denis,  num quarto de hotel, deitando numa cama macia e limpinha depois de uma boa ducha, com um sorriso enorme no rosto. Feliz por estar ali. Feliz porque é Natal.


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