do resto do mundo

Dizem por aí que descobriu-se uma nova forma de vida. Muito ainda há de se debater quanto ao seu nicho ecológico, mas já definiu-se seu hábitat: espalhado por toda parte, vive onde ninguém mais quer estar. Seu espaço natural começa onde termina tudo que olhos saudáveis querem ver. Verdadeira maravilha da evolução, é incrivelmente adaptável. Reproduz-se com muita facilidade, acomodando-se na sujeira, servindo-se de excrementos e restos. Acredita-se que por isso esteve por tanto tempo esquecido: por instinto, o evitamos, já que tal modo de vida faz com que exale fortes odores – que parecem funcionar como defesa natural da espécie.
 
Alguns exemplares apreciam lugares escuros, longe dos olhos curiosos. Construções abandonadas, ruas desertas e infectas, lixões ou sob o pouso de viadutos: todos esses são pontos onde podem ser facilmente encontrados. Outros são mais exibicionistas e não se importam em mostrar a todos a miséria de sua existência. Esses são vistos com desconfiança e por muito tempo foram capturados e eliminados pelos órgãos de vigilância sanitária competentes. Tais criaturas têm comportamento imprevisível. Diz-se que por sua condição primitiva, estão próximas à barbárie e por isso, perigosas.
 
Muito estudo ainda será necessário nos próximos anos para responder a todas as perguntas sem respostas. Sua linguagem é objeto de mistério. Até que ponto comunicam-se entre si? Seriam capazes de produzir cultura? – imagens pictóricas rudimentares foram encontradas perto de tocas, assim como sons em padrões curiosos foram registrados, mas nada de conclusivo foi descoberto até o momento. Observando um espécime em cativeiro, nossos cientistas têm feito diversos questionamentos e elucubrações. Parecem ser capazes de aprender ao menos as tarefas mais simples quando lhe são ensinadas. Não se sabe ainda até onde podem chegar. Não se sabe ainda se são capazes de sentir, de amar... Nota-se, porém, determinados comportamentos sociais de companheirismo entre alguns indivíduos, embora alguns pesquisadores achem que trata-se apenas de um oportunismo instintivo.
 
Uma descoberta desta magnitude mexeu com a imaginação de leigos e eruditos. Multiplicam-se tratados e mais tratados sobre o assunto. Uns falam em integrá-los. Outros, em eliminá-los enquanto ainda não são uma ameaça. Há também aqueles que viram no achado um alento: então, afinal, não estaríamos sós? É certo que muito ainda há de ser dito sobre o assunto.
 
No presente momento, o debate na comunidade científica anda acirrado porque alguém lembrou da necessidade de nomear a nova descoberta. Alguns dos nossos doutores da ciência querem chamá-lo de Homem. Eu, particularmente, em toda minha ignorância, ainda não estou muito certo quanto a isso.

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Comentários

  1. tomei muita simpatia por esse ser descoberto, talvez também tenha achado meu alento. mas será mesmo uma nova forma de vida? também não estou muito certa quanto a isso.

    Ótimo texto. Voltamos às boas?

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  2. huuum, vou pensar no seu caso!!! :D hahahah

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  3. hahahahah, obrigado, Flávia! Que bom que gostou também!

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