Marianne
Perdoe-me, minha querida, mas não posso. Eu queria, juro que
queria, mas as condições que me impõe são por demais injustas. Tentei. Tentei
muito. Perdi horas do meu precioso sono meditando, buscando o caminho mais liso...
Falhei.
Recuso-me a continuar como estamos. Esse comodismo, essa prostituição do
que sonhamos chega ser criminosa. Mas o passo a frente que me
propõe... é como dois para trás.
Talvez a culpa não seja sua. Talvez seja minha. Que sonhei alto demais. Que me agarrei a utopias.
Então, por favor, perdoe-me se me recuso. Se me cansei das trocas de
acusações, das injúrias e ofensas. Do cinismo, das mãos que hora
afagam, hora esbofeteiam. Debati. Argumentei. Até mesmo amigos perdi!
Agora chega.
Recuso-me a escolher entre os dois cálices. Recuso-me optar pelo veneno
menos amargo. Entre as duas opções que me foram dadas, escolho a terceira: lavo
minhas mãos. E que você, minha amada, minha adorada
Democracia, possa morrer na cruz... Para em glória ser ressuscitada.
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