Sinal vermelho
Na chuva havia aquele homem, um senhor escrevendo num caderno molhado. As páginas já estavam manchadas pela tinta de caneta que se soltava. Para cada palavra que o velho escrevia, a água levava outras dez. Escorriam azuis, misturavam-se com as poças da calçada.
Em pouco tempo a calçada estaria cheia de palavras. Substantivos e adjetivos. Verbos e ideias que inexoravelmente escorreriam para o ralo. Virariam esgoto. E então o texto estaria completo. Lavado pela chuva. E nunca teria existido.
Todavia o molhado escritor parecia decido. Com uma angústia no rosto, palavra por palavra, não se dava por vencido.
Tive dó.
Mas quando o ônibus saiu e perdi a vista da janela, percebi que as palavras daquele homem, sejam lá quais fossem, eram mais verdadeiras que todas as que jamais escrevi.
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