Feroz
Lembro que todas as cinzas manhãs fazia aquele caminho. Era uma casa construída sobre rocha, de modo que para chegar até ela, subia-se dois longos lances de escadas rentes ao paredão de pedra crua. Em cima havia um pequeno portão e uma amurada que separava o quintal de uns bons dez metros de queda. O parapeito era sustentado por uma sequência de pequenos pilares brancos, jônicos, que davam ar senhorial a fachada. Foi lá que eu o vi. Da primeira vez, achei que fosse saltar pelo vão da amurada tão disposto para fora estava, desafiando a altura. Não. Ficava ali, parado, olhando o movimento. Como um gárgula no topo de uma torre. Silencioso. Era completamente branco. Olhava tão fixamente para frente que poderia mesmo ser confundido com uma estátua se não estivesse em uma posição tão inusitada. Na manhã seguinte voltei a olhar e lá está ele. Na mesma posição. Parecia nunca ter saído dali. Passei a esperar por aquele trecho da viagem todas as manhãs, só para observar aque...